Chamei-lhe RITA...

Socorri a RITA.
Uma criança de 2 (dois) anos acidentada na A1 e que viajava com a sua família. Este dia não irei esquecer com facilidade.
Quero dar os parabéns ao meu filho Bruno que foi ele o único que enfrentou a situação comigo e me deu tudo o que necessitava. Uma boa prova de capacidade e frieza.
Viajava com a minha família na A1 e a uns 400 metros adiante, vimos uma grande nuvem de fumo (obras?). Mas que acidente. Um carro familiar estava desfeito na berma. Parámos e saí rapidamente para socorrer. Tinha acontecido 30 segundos antes.
Eram 2 (dois) adultos e 3 (três) crianças. A RITA (dei-lhe este nome porque foi o que me pareceu ouvir na confusão que se instalou) era a vítima mais grave. Foi a ela que corri na tentativa de diminuir a gravidade da situação. A RITA estava inconsciente e ainda respirava, mas com muita dificuldade. O sangue saia-lhe pelas vias aéreas e de repente tem a 1ª paragem cardíaca. Faço a reanimação (estou só como socorrista do INEM e ninguém a meu lado tem formação nesta área) e consigo recuperar a RITA.
A respiração é lenta e difícil.
Passado 1 minuto a RITA tem a 2ª paragem cardíaca e, rapidamente inicio as manobras de reanimação (só, sem ninguém que me ajude a decidir). O Bruno conseguiu trazer-me o AMBU e o O2 para me ajudar na reanimação. Tinha chegado uma ambulância e o Bruno era o meu mensageiro.
Consigo recuperar a RITA deste 2º ataque.
Os pais choram nervosamente e perdem as forças. São levados para a ambulância que se encontrava no local.
A RITA continua a bolsar sangue pelas vias aéreas e tem a 3ª paragem cardíaca. Recomeço as manobras de reanimação. Chega o INEM!
Ao fim de 40 minutos sensivelmente, a RITA continua sem reagir ao 3º ataque.
Já dentro da ambulância a RITA continua sem sorrir para todos nós.
Concluimos... Saio da ambulância e vou ter com a minha família que me esperava dentro do meu Toyota. Sentem o meu desânimo. A RITA já ali não está...
Não consegui trazer a RITA à 3ª vez... (Desculpa RITA, mas não consegui. Como sou limitado...).
Não me sinto culpado, mas impotente é a palavra certa, e isso faz-me gritar por dentro, apesar de a minha tristeza não se comparar à dos pais.
RITA... merecias VIVER...

Descansa em paz...
Chamei-te RITA...

Comentários

Living Place disse…
... és o meu heroi, amo-te!
Anónimo disse…
Todos juntos somos uma grande equipa :')

Obrigado..
Descança em paz RITA *
Living Place disse…
O anonimo é o bruno
Anónimo disse…
Não interessa ser herói para os olhos do mundo, mas sim para o nosso Coração.
Paulo mais não podias fazer, não dás a vida nem a tiras, mas tentaste com todo o teu empenho e amor manter cá deste lado uma menininha, mas às vezes é assim que tem que ser, e lá em Cima está registado o teu acto.
Bruno, meu pequenino/grande herói, com rapazes como tu sinto esperança no futuro.
Sónia e André eu sei que também fizeram um grande feito, não interessa que não o saibam.
E o senhor da assistência que ajudou no reanimento da "Rita" e não era obrigado a fazê-lo também é um herói, parabéns a ele.
Desejo do fundo do coração que todos os que ajudaram aceitem o que aconteceu e aprendam com esta dolorida lição, e principalmente que aqueles pais e irmãos possam prosseguir a sua vida o melhor possível.
Agredeço a Deus por vocês existiram.
Sandra Pereira
Unknown disse…
Apesar do triste desfecho, tens de pensar que fizeste tudo o que podias. Ainda bem que existem pessoas como tu.

Um grande xi-coração apertadinho
Marta (fUmiguinha)
tb disse…
A vida e a morte amigas que caminham de mão dada em todo o nosso percurso...
Quantas Ritas morrem por esse mundo vítimas da estupidez humana de quem vive sem saber viver.
A nós fica a consciência do dever cumprido e alguma dor.
abraço
Gonçalo disse…
Só hoje li este teu testemunho... estou sem palavras... um acto simplesmente maravilhoso... És verdadeiramente um herói... Abraços, Gonçalo
Gonçalo disse…
Só hoje li este teu testemunho... estou sem palavras... um acto simplesmente maravilhoso... És verdadeiramente um herói... Abraços, Gonçalo
Menina Marota disse…
Momentos que nos deixam sem palavras...

Fica a sua extraordinária capacidade de querer salvar neste caso a Rita... BEM HAJA!!

Um abraço solidário
Nuno Monteiro disse…
Amigo,

Se bem me lembro, também te foi ensinado que infelizmente não conseguimos salvar toda a gente.
No entanto são esses os gestos que ficam, é a luta, e a humildade de saber quando desistir e aceitar perder perante algo que nos ultrapassa. Com ou sem VMER a Rita provavelmente iria morrer, mas os teus gestos permitiram oferecer algum tempo e esperança aos pais, e se calhar isso foi mais importante...
E para além disso, Deus precisa de Anjos.

Grande abraço
Nuno Monteiro

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